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No Paraná, executivos minimizam risco Trump
Lideranças de entidades empresariais paranaenses de segmentos exportadores acreditam que a eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos não será a catástrofe pintada por analistas, mas admitem que será preciso ao menos uma sinalização de que o discurso protecionista de campanha não será levado ao pé da letra a partir de janeiro de 2017. A expectativa é que fale mais alto a tendência do partido do magnata, o republicano, de intervir pouco na economia.
Trump bradou durante toda a campanha que reveria acordos comerciais bilaterais com outros países para reduzir o deficit em transações e para proteger os empregos dentro dos EUA. Apesar de não se referir diretamente ao Brasil nos últimos meses, ele citou o Brasil como uma das nações que se aproveitam dos norte-americanos em relações comerciais "de mão única", em um programa de entrevistas na TV.
Mesmo assim, os executivos ouvidos pela FOLHA dizem que o susto inicial pela vitória de Trump sobre a democrata Hillary Clinton, divulgada na madrugada de quarta-feira, causará instabilidade e volatilidade em bolsas de valores, na cotação do dólar e nas intenções de investimentos do empresariado pelo mundo. Contudo, as previsões são de que os efeitos sejam de curto prazo e que possam ser esquecidos a partir da escolha da equipe de governo do republicano.
Terceira nação que mais importa do Paraná, os EUA compraram US$ 634,2 milhões em produtos de janeiro a outubro, atrás apenas de China, com US$ 3,3 bilhões, e Argentina, com US$ 1,2 bilhão. No entanto, oito dos dez principais produtos embarcados a partir do Estado são alimentícios, o que pode diminuir a influência de medidas protecionistas que visem recuperar empregos na indústria norte-americana. Ainda, devem ser desconsiderados soja e milho, também produzidos no país de Trump.
Quanto a artigos manufaturados, por outro lado, os executivos não descartam certo risco. Economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Roberto Zurcher diz que acordos comerciais não são modificados de uma hora para outra. "No caso do Paraná, o produto que mais tem influência nos EUA é a madeira, que até é considerada industrializada porque é usada na construção civil, mas não acredito em barreiras para produtos como esse", diz.
Na exportação de carne, ele acredita que não há grandes riscos porque a abertura dos EUA ao produto brasileiro é recente e dá cacife para conseguir novos mercados. "Somos concorrentes na exportação de carne e ele (Trump) poderia tentar proteger o mercado interno de alguma forma, mas o mundo precisa cada vez mais de alimentos e teríamos alternativas", diz Zurcher.
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), Péricles Salazar, é ínfima a chance de modificação na abertura de mercado nos EUA ao produto brasileiro. "Foi algo conquistado a duras penas e após muitos anos e uma mudança poderia ter consequências também para a entrada deles no nosso País", cita. Ele completa que o discurso não será levado adiante uma vez que Trump assuma o governo.
O presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar), Miguel Tranin, também não crê em risco para o açúcar, quarto em exportações a partir do Estado. "Nos EUA, o presidente costuma ser menos intervencionista do que aqui e acho até que existem possibilidades de negócios mais interessantes com Trump do que com Hillary."
Carlos Peres avalia chegada de Trump à presidência dos EUA. Para assistir o vídeo: Clique aqui.
MUITA CALMA
Especialista em comércio exterior, a professora de economia Maria de Fátima Sales, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), não é tão otimista quanto os empresários. "Eles importam 30% do que o Brasil exporta e vamos ficar temerosos por um tempo. Se ele propuser as sanções comerciais que sinalizou, precisaremos ver quais serão as sanções que o restante dos países poderá propor aos EUA, principalmente a China."
Ela acredita que os acordos comerciais ficarão mais difíceis com Trump, principalmente em caso de concorrência com a indústria deles. Sobre o câmbio, diz que ainda é cedo para prever se a valorização do dólar desta quarta-feira será duradoura. "Se eles resolverem se fechar, vai diminuir o trânsito de dólares e vai afetar o poder de compra. É preciso cuidado com a volatilidade do câmbio", diz a especialista.
Mesmo assim, o economista da Fiep acredita que pode ocorrer uma interrupção da abertura globalizada de hoje, com países mais voltados para buscar a autossuficiência produtiva, com uma vantagem para o Brasil. "Muitos não conseguem se abastecer de alimentos, mas o Paraná e o Brasil estão muito bem inseridos como exportadores nesses mercados", diz Zurcher.