Aumentar o poder de compra sem elevar a capacidade produtiva gera ganho de demanda superior à de oferta e, por consequência, pressão inflacionária, que tira o poder de compra. Por isso, o professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e consultor econômico da Acil (Associação Comercial e Industrial e Londrina) Marcos Rambalducci defende que a reposição da inflação ocorra, mas que os trabalhadores também tenham incluídos no salário o ganho da produtividade obtido por toda a economia. "Acredito que o governo vá adotar a mensuração da produtividade para o reajuste do mínimo. É a lógica liberal. Talvez não consiga usar o índice deste ano, já que o PIB só sairá em abril do ano que vem, mas poderá seguir com o de um ano antes", diz.
Ele cita que há risco de aumentar a concentração de renda e a desigualdade se houver apenas a recomposição da inflação, porque todo o ganho econômico proveniente do melhor desempenho no trabalho ficaria com os empregadores. "Por mais liberal ou neoliberal que seja o economista, ele sabe que o poder de negociação do patrão é maior do que o do trabalhador", cita
Por outro lado, enxerga que a alta no piso no mesmo índice do PIB (Produto Interno Bruto) excede ganhos na produtividade. "Se a economia cresce 20% e o número de trabalhadores empregados aumentou 10%, isso significa que a produtividade foi elevado em 9%", diz. A conta equivale ao aumento do PIB dividido pelo saldo de contratações.
Para Rambalducci, é falta de bom senso tirar poder de compra dos principais consumidores do que é produzido no País, mas o reajuste do salário mínimo não pode ser usado, sozinho, como ferramenta da redução da desigualdade. "É defensável e o Dieese tem o papel de buscar um aumento no poder de compra do assalariado. O senão é que pode esbarrar na capacidade da economia de entregar produtos", diz. (F.G.)